Esses dias eu estava, como de costume, navegando pela internet, vendo vídeos, lendo artigos e pesquisando coisas sobre tecnologia. Até que, por acaso, acabei caindo em um post no Reddit.

A discussão era sobre o curso do Felipe Deschamps, um nome bem conhecido entre quem trabalha ou quer entrar na área de programação.

A pergunta era simples:

“Opiniões sinceras sobre o curso.dev do Felipe Deschamps?”

Mas o que me chamou atenção não foi a pergunta, foram as respostas. A maioria delas seguia o mesmo tom:

“Mano, o curso custa R$ 2.100,00. Com certeza não vale a pena.”

“Tem curso na Udemy por R$ 40 ou R$ 70 que ensina o mesmo.”

“Se você souber inglês, acha curso por R$ 20 que é muito melhor.”

“Curso brasileiro é tudo ruim, nenhum vale o preço.”

E assim por diante...

Esses comentários me deixaram pensativo. Não porque eu queria defender o Felipe, o foco aqui não é ele, mas porque eu percebi uma coisa: As pessoas têm medo de investir nelas mesmas.

Lembrei de uma frase do Maniero que faz muito sentido nesse contexto:

“Procure ajuda profissional capacitada (escassa e cara), não tem milagre ou atalho. Não ande em círculos, não ache que crenças resolvem algum problema de forma sustentada.”

— Maniero

E é exatamente isso. A gente vive num tempo onde todo mundo quer resultado rápido, mas quase ninguém quer pagar o preço, literalmente.

  • Querem aprender programação, mas só fazem cursos de R$ 30.

  • Querem mudar de vida, mas não investem em mentoria, formação ou acompanhamento sério.

  • Querem o “atalho”, o “hack”, o “segredo”, mas não querem o processo.

“E o mais curioso é que essas mesmas pessoas não acham caro gastar R$ 200, R$ 300, R$ 500 num final de semana com comida, bebida ou festas.“

Mas quando o assunto é conhecimento, o mesmo valor vira um absurdo. “Dois mil reais num curso? Tá doido! Isso é ser trouxa.”

Mas a verdade é: Quem pensa assim, continua no mesmo lugar. Porque conhecimento de verdade custa caro.

E não é porque alguém está te “enganando”. É porque o tempo, a experiência e a metodologia de quem ensina têm valor.

Claro, não estou dizendo que cursos baratos ou conteúdos gratuitos não prestam. Eles têm o seu papel, principalmente pra quem está começando ou com pouca grana.

Mas chega um ponto em que você precisa subir de nível, e pra isso, vai precisar investir de verdade. Não dá pra esperar resultados extraordinários fazendo sempre o mínimo.

E é aí que entra uma reflexão que me veio forte depois dessa experiência:

Será que esse medo de investir em nós mesmos não é um dos motivos pelos quais tanta gente sofre com a síndrome do impostor?

Pensa comigo:

  • Como alguém vai se sentir confiante, se tudo o que ela consome é conteúdo solto, superficial, sem base e sem acompanhamento?

  • Como ela vai se sentir preparada, se nunca teve uma formação estruturada ou alguém experiente pra guiar o caminho?

A insegurança vem justamente daí, da falta de profundidade, da sensação constante de que “ainda não sei o suficiente”.

As pessoas estão se afogando em conteúdo gratuito, pulando de um vídeo para outro, acumulando informação, mas sem transformação.

E no fim, se sentem impostoras. Não porque são, mas porque nunca deram a si mesmas a chance real de aprender de verdade.

Investir em si mesmo não é luxo. É uma forma de dizer: “Eu acredito em mim.” E talvez seja isso o que mais falta hoje em dia: Coragem pra acreditar que a gente merece crescer.

Isso tudo me fez lembrar de algo que vivi há alguns anos, e que hoje faz ainda mais sentido pra mim.

Sou músico autodidata, aprendi quase tudo “de ouvido”, na tentativa e erro. Tocava guitarra há uns oito anos, já fazia meus solos, improvisava, achava que mandava bem. Até que um dia ouvi o Steve Vai fazendo um harmônico incrível na guitarra. Fiquei impressionado.

Na época, pensei:

“Deve ser o equipamento dele. É isso. Se eu tiver o mesmo pedal, o mesmo amplificador, consigo fazer igual.”

Na minha ignorância, eu acreditava que bastava ter as ferramentas certas e não o conhecimento. Nunca tinha feito aula, dizia pra mim mesmo que não precisava de professor.

Até que um dia fui tocar na casa de um amigo. Ele não tocava tão bem quanto eu, mas fazia aulas com um dos melhores guitarristas da nossa cidade. Estávamos tocando juntos, e de repente, ele mandou aquele harmônico, com um som limpo, usando só o drive do amplificador.

Na hora eu parei, meio chocado.

Perguntei:

— “Cara, como você fez isso?”

Ele riu e me mostrou.

Não era equipamento. Não era um pedal milagroso. Era técnica, uma coisa que o professor tinha ensinado.

Naquele momento, caiu a ficha: Eu tinha passado oito anos tentando descobrir sozinho o que ele aprendeu em alguns meses com alguém experiente.

Oito anos apostando na sorte, enquanto bastava ter a humildade e a coragem de investir em quem sabia o caminho.

E é exatamente isso que acontece com muita gente hoje. As pessoas passam anos pulando de vídeo em vídeo, curso em curso, achando que vão “descobrir” sozinhas a resposta. Mas no fundo, estão rodando em círculos, perdendo tempo e energia, e ainda achando que estão economizando.

Conclusão

Investir em si mesmo é mais do que gastar dinheiro, é uma escolha de acreditar que você pode ir além.

É entender que conhecimento de verdade vem com método, experiência e orientação.

E sim, isso tem um preço!

Mas o preço de não investir é ainda maior: Anos perdidos, frustração acumulada e a sensação constante de que “falta algo”.

É isso que alimenta a síndrome do impostor, essa insegurança que nasce quando a gente tenta ser tudo, aprender tudo, mas sem direção.

Talvez o verdadeiro segredo não seja aprender mais, e sim aprender melhor. E pra isso, às vezes tudo o que falta é coragem.

Coragem pra admitir que não sabemos tudo. Coragem pra investir em quem sabe mais.

E principalmente, coragem pra investir em nós mesmos.

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