Depois de quase dois anos longe da programação, eu voltei ao mercado com uma missão diferente: trabalhar com análise de custos. Nada de IDE, Git ou deploy agora eram planilhas, relatórios e cálculo de margem até onde a vista alcançava.

Mesmo sem programar oficialmente, meu lado dev se recusava a “ficar quieto”. Comecei a criar ferramentas, automações, macros… tudo para facilitar a vida da galera. Até aí, tudo bem.

Até que ele chegou.

A empresa contratou um analista de custos terceirizado. Só que o cara não era qualquer analista, ele era praticamente um cérebro com pernas. Raciocínio lógico absurdo, aprendizado instantâneo… Se me dessem uma tecnologia nova, eu precisaria de 1 a 2 meses para dominar. Ele? Um final de semana com pizza fria e já saía especialista.

E então começou a minha tragédia grega particular. Eu me sentia pequeno, muito pequeno. Quanto mais ele brilhava, mais eu apagava.

Foi aí que meu cérebro decidiu… travar.

Sempre que eu precisava apresentar algo para ele, parecia que eu esquecia como se usa um teclado. Digitar era como jogar Guitar Hero no modo expert… só que com as duas mãos quebradas. O mouse escorregava. A voz sumia. A lógica? 404 Not Found.

Eu estava diante da síndrome do impostor no seu modo mais cruel. E meu corpo reagiu: nervosismo, estresse, problema de vista… Eu ia embora arrasado, pensando: “Acho que não nasci pra isso. Programar não é pra mim.”

E claro, entrei numa competição interna com o cara,  competição essa que só eu sabia que existia 😂

Comecei a estudar loucamente para “acompanhar”…

  • Digitação com todos os dedos

  • Excel só com atalhos

  • Treinos para pensar mais rápido (como se fosse academia de raciocínio lógico)

Mas quanto mais eu tentava ser ele, menos eu era eu. E mais eu sofria. Até que um dia eu desabei e contei tudo para ele. E foi aí que a história mudou.

Ele me disse:

“Welisson, eu trabalho há mais de 10 anos com isso, e nunca vi um programador tão dedicado quanto você. Você sempre entrega tudo, com muita qualidade e profundidade. Você só precisa parar de se cobrar tanto. Evolua 1% todo dia. Você vai perceber que você é bom em muitas coisas que eu não sou."

Aquilo bateu forte. O cara acreditava mais em mim… do que eu mesmo acreditava!

E foi então que eu percebi, que eu não precisava ser o processador quântico. Eu podia ser a máquina estável, que entrega com consistência e entende profundamente o que faz.

Aprendi a olhar para as minhas qualidades. Sem pedestal, sem competição invisível. Cada um tem seu tempo, seu estilo, sua história.

A Reflexão Que Tirei Disso Tudo?

No fim das contas, o mundo da tecnologia não é uma corrida de Fórmula 1, é uma maratona. E numa maratona, o que importa não é quem dispara na frente… É quem continua, mesmo quando tropeça.

Velocidade impressiona. Profundidade transforma.

Seus pontos fortes, lógica, arquitetura, qualidade de código, capacidade de resolver problemas realmente difíceis são o tipo de ativo que faz uma empresa funcionar melhor no médio e longo prazo. Eles não são menos importantes só porque não piscam rápido na frente dos olhos.

Se hoje você se pega comparando, lembre-se:

  • O mundo precisa tanto do fazedor veloz quanto do pensador que entrega certo;

  • Especialização não é limitação, é diferenciação;

  • Evolução diária de 1% vence picos de desempenho isolados.

Você não precisa competir com o “processador quântico” do lado. Precisa continuar construindo o sistema que só você sabe construir, com paciência, cuidado e consistência. E quando a ansiedade vier, respire, olhe para o seu histórico de entregas e acrescente 1% a mais de confiança hoje.

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