Planejar não é apenas uma arte subestimada; é um alicerce silencioso que, na correria, a gente às vezes deixa de lado. E foi assim que eu descobri, na prática, o preço de trocar calma por velocidade. Um projeto promissor acabou virando uma aula que custou caro e me fez criar, sem querer, quatro versões do mesmo erro.

Essa história não é sobre ferramenta ou tecnologia.
É sobre ritmo, pressão e aquela sensação de que “se tá funcionando, tá tudo bem”.

Por alguns dias, eu acreditei de verdade que estava mandando muito bem: agilizando, construindo rápido, entregando resultado. Até que uma pergunta simples do cliente desmontou minha certeza e escancarou algo que eu não tinha parado pra olhar.

De repente, o que parecia eficiência virou retrabalho, repetição e um aprendizado que poderia ter sido mais barato se eu tivesse feito uma pergunta básica no início.

O que vem a seguir não é uma lição de moral, e sim um registro honesto de três aprendizados que mudaram a forma como eu encaro projetos, tecnologia e, principalmente, pressa.

A 1.ª Lição: A Bomba Silenciosa

Fui chamado para participar no desenvolvimento de um aplicativo em uma ferramenta no-code. A missão era perfeita: Testar o limite da plataforma, criar algo funcional e visualmente impecável em tempo recorde.

A sensação de progresso era intoxicante. Em poucos dias, a aplicação estava completa: telas, automações, fluxos de usuário e cadastros.

Chegou a hora da entrega. Tudo estava rodando redondo, até que o cliente soltou a pergunta que mudou o clima da sala, como um balde de água fria:

“Quantos usuários simultâneos o sistema suporta no plano de vocês?”

Naquele instante, a simplicidade do no-code desmoronou. Fomos conferir o plano e descobrimos a bomba. Para suportar a equipe completa do cliente, o custo mensal saltava de zero para mais de 4 mil dólares.

O custo era proibitivo. O projeto, que havíamos celebrado minutos antes, era inviável. Não era um erro técnico, era uma falha de fundação, um erro de planejamento que um simples "Ctrl+F" no site da ferramenta teria evitado. O peso daquele silêncio na reunião, enquanto o cliente lia o preço, foi o meu verdadeiro aprendizado. Eu senti o custo da inércia, a tendência de seguir em frente com a execução sem questionar as premissas básicas.

A 2.ª Lição: A Fatura do Improviso

Tivemos que escolher, admitir a falha catastrófica ou forçar uma solução criativa. Escolhemos a segunda, movidos pela necessidade de validar a ideia.

Descobrimos uma brecha no sistema, o modo protótipo permitia até 10 usuários únicos por aplicativo sem o salto de custo. A solução de improviso veio em um insight quase desesperado:

“E se criarmos quatro versões idênticas da aplicação, cada uma gerenciando um grupo de 10 usuários diferentes?”

Não era elegante. Era a antítese da escalabilidade. Mas funcionou. O cliente pôde testar o conceito, e o projeto foi salvo.

Mas a criatividade, quando usada para cobrir um erro fundamental, cobra seu preço em esforço. E a fatura veio cara.

Gerenciar a "Solução dos Quatro Aplicativos" foi uma maratona manual e frustrante. Cada ajuste, cada nova automação, cada campo adicionado para corrigir um bug precisava ser replicado, bit a bit, nos outros três.

  • Era como manter quatro baldes idênticos debaixo de quatro goteiras diferentes.

  • Era tempo roubado da inovação para ser gasto na repetição.

O improviso nos salvou de um dia ruim, mas nos condenou a semanas de trabalho dobrado. Aquele esforço extra foi o preço real de não ter feito uma única pergunta sobre licenças lá no início.

A 3.ª Lição: O Verdadeiro Papel do Mapa

Muita gente confunde planejar com tentar prever o futuro ou desenhar um caminho que nunca vai mudar. Isso é impossível.

O verdadeiro papel do planejamento é outro, e é a maior reflexão que trouxe daquele projeto:

Planejar é garantir que você não será refém do improviso, nem vítima da pressa.

Planejar não é só desenhar o caminho; é checar a fundação antes de erguer as paredes. É fazer as perguntas difíceis sobre viabilidade, sustentação e custo no começo, quando a mudança é barata, e não no fim, quando ela custa a alma do projeto.

A pressa em entregar algo "funcionando" pode nos cegar para a sustentação. Um projeto sem planejamento é um castelo na areia: lindo, rápido de construir, mas frágil diante do primeiro ciclo de vento forte.

Criatividade é importante. Improvisar é necessário. Mas o planejamento é a bússola que transforma uma boa ideia em algo que realmente dura e sustenta o seu crescimento, seja no desenvolvimento de software ou na própria vida.

E Você?

Já viveu um projeto onde o improviso salvou o dia, mas te fez repensar o valor do planejamento? Aquela solução criativa que te custou mais horas no futuro?

Conta nos comentários. Talvez sua história também esconda uma boa lição sobre o custo dos atalhos.

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