Se tem uma coisa que aprendi neste último feriado, entre o sol forte, muitas risadas, cheiro de churrasco e uma nuvem de repelente, é que a vida sempre dá um jeito de ensinar. E às vezes, ela ensina a lição mais valiosa justo quando você só queria pescar um peixe e curtir o aniversário da sobrinha.

Pois bem. O cenário era o clássico feriadão prolongado. Fomos todos para um pesque-e-pague: eu, meu irmão, meu cunhado e a família quase toda. Aquele clima caótico e gostoso: Churrasqueiras gemendo no fundo, crianças correndo com a energia acumulada de 10 Red Bulls e os adultos tentando parecer relaxados, mesmo sabendo que havia dez boletos vencendo na segunda-feira.

Chegamos e fomos direto ao ponto principal: A pescaria.

Era para ser o momento perfeito. Lagoas calmas, clima agradável, equipamento pronto… tudo conspirando para um super momento de paz, reflexão e, claro, tédio.

Sim, tédio. Porque o peixe simplesmente não vinha. Nada de fisgada, nada de beliscão. Nem aquela mexidinha de respeito na boia 😆

Eu, meu irmão e meu cunhado começamos a nos entreolhar com aquela impaciência típica:

Rapaz… será que essa lagoa tem peixe mesmo ou fomos enganados? 😅

E como bons representantes da geração multitarefa, da agilidade, do manifesto “move fast and break things”, fizemos o quê? Exatamente: começamos o "Tour das Lagoas".

Havia três lagos ali. Tentamos todos. Jogamos a isca na ponta, no meio, na sombra, no sol, no fundinho, no raso… E nada. A sensação era idêntica a um debug de código ruim: Quanto mais a gente mexia, mais parecia que o erro aumentava.

Mas, enquanto fazíamos nossa maratona tecnológica em volta da água, havia uma pessoa que permaneceu totalmente alheia à nossa inquietação: A mãe do meu cunhado.

Uma senhora tranquila, sentadinha em seu banquinho, concentrada. A postura de quem já viu o mundo girar muitas vezes e sabe que correr nem sempre adianta. Ela ficou ali. No mesmo lugar. Horas a fio.

E é claro que você já sabe o que aconteceu. Ela pegou o primeiro peixe do dia. 🙃

Nós três, homens modernos, conectados, ansiosos e "ultraestratégicos", paramos na hora e pensamos:

Opa… Se ela pegou aqui, então a estratégia mudou. AGORA vai!

Voltamos correndo para o lado dela. Passamos mais duas horas ali. E nada para nós.

Enquanto isso, a senhorinha, na mesma paciência, no mesmo ritmo, sem mudar um milímetro sua técnica, pegou mais cinco peixes até o fim do dia.

Resultado final do placar: Senhora da Paciência: 5 Nós: 0 (e uma leve crise existencial).

E foi ali, vendo ela tirar o último peixe com um sorriso calmo no rosto, que me bateu a analogia perfeita para escrever esse artigo.

A Tecnologia Está Cheia De “Pescadores de Lagoa”

Deixa eu te perguntar uma coisa honesta: Quantas vezes você viu alguém tendo resultado consistente enquanto outras pessoas, que parecem fazer “de tudo”, continuam no zero?

Ou melhor ainda: Quantas vezes você mesmo já pulou de projeto em projeto achando que o próximo seria “a lagoa certa”?

A verdade é que o mercado de tecnologia está infestado dessa mentalidade. Está cheio de gente que:

  • Troca de linguagem só porque viu uma postagem "hype" no LinkedIn;

  • Muda de framework toda vez que sai um vídeo novo no YouTube prometendo milagres;

  • Reinicia um projeto do zero porque “agora vai, esse boilerplate é melhor”;

  • Passa meses rodando em círculos, tentando achar a próxima tendência que vai, magicamente, trazer resultado.

Esse é o pescador inquieto. É o programador que abre 23 abas, compra 17 cursos, inicia 9 projetos e não termina nenhum. É o empreendedor que muda o modelo de negócio toda semana.

Só que, enquanto ele pula de lagoa em lagoa… tem sempre uma "senhorinha" sentada no mesmo lugar. Com a mesma vara. Fazendo a mesma coisa. Com consistência. E pegando peixe.

O Poder ignorado do Tédio Produtivo

Existe um ponto curioso nessa história toda: A gente correu a lagoa inteira para fugir do tédio. Mas o tédio é justamente o ingrediente secreto do resultado.

Porque tédio não é falta de ação. Tédio é repetição. Repetição é foco. E foco, bem aplicado, vira maestria.

No código, no negócio, na carreira, no marketing, na vida. Eu duvido que você nunca tenha se sentido assim:

Começa a estudar algo → fica difícil ou chato → troca.
Começa uma estratégia → não dá resultado em uma semana → troca.

Enquanto isso, alguém do seu lado, muitas vezes com menos "genialidade" ou ferramentas piores que as suas, continua. Esse alguém é a senhorinha da lagoa. E os peixes são os resultados acumulados que ela colhe.

O Mercado Castiga Os Apressados

A tecnologia é uma área tentadora. Ela te seduz com ferramentas mágicas e promessas de atalhos. Isso cria uma falsa sensação de: “Se eu mudar de lugar, vai dar certo.”

Não vai. Na maioria das vezes, o que falta não é outro lugar. É outra postura. É a postura de ficar.

Ficar quando está chato. Ficar quando está lento. Ficar quando parece que ninguém está vendo seu esforço. Porque uma coisa eu te garanto: O peixe não belisca para quem se mexe o tempo todo. Ele vem para quem permanece.

Os melhores programadores não são os mais rápidos, são os que permanecem no problema. Os melhores empreendedores não são os mais inteligentes, são os que continuam mesmo quando o negócio está estagnado.

No fim do dia, percebi que nós pulamos tanto que deixamos de pescar. Ela pescou tanto porque não pulou.

E isso me fez pensar, e quero que você pense também: Na sua carreira hoje, você está sendo quem?

O pescador inquieto ou a senhorinha paciente?

Você está tentando aprender tudo ao mesmo tempo, ou está focando no que realmente importa e indo até o fim?

Você está fugindo do tédio, ou aproveitando o tédio para criar consistência?

Talvez, só talvez, no seu projeto, na sua carreira ou no seu negócio, o peixe esteja ali. Bem onde você já está. Esperando apenas você parar de correr e, finalmente, ficar.

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